Há tempos, fui formadora na indústria automóvel e ministrei, durante 2 anos, uma série de ações sobre controlo de processos, onde tive a oportunidade de conhecer metodologias totalmente diferentes das que eu estava habituada.
Uma das afirmações mais populares entre os formandos era:
"O erro humano não existe; os erros só acontecem quando os sistemas são incapazes de prevenir a sua ocorrência."
Confesso que esta frase intrigava-me mas, ao mesmo tempo, traduzia toda a essência da abordagem preventiva da Qualidade, na qual eu acredito fortemente.
Lendo sobre a vida de Deming, encontrei um interessante artigo, escrito por uma pessoa que assistiu, durante 4 dias, um seminário do "Guru" (saiba mais sobre Deming
aqui).
O autor descreve, tal como presenciou, o famoso exercício aplicado por Deming e conhecido como Red Bead Experiment. Seis participantes são convidados a retirar contas de uma caixa, utilizando uma ferramenta especial para o efeito. O objetivo é selecionar apenas contas brancas. Os seis aplicados "trabalhadores" esforçam-se para fazer o melhor possível. Infelizmente, existem 20% de contas vermelhas na caixa (consideradas "defeituosas" para este exercício). Mesmo que os participantes tentem arduamente e, apesar de todos os incentivos, elogios e reconhecimento por parte de Deming, a missão do grupo será praticamente impossível!
O experimento demonstrou que é totalmente inútil responsabilizar os trabalhadores pelos problemas no sistema; estes problemas estão para além do seu controlo e poder de atuação.
É possível utilizar este exercício como ponto de partida para a reflexão, na organização onde você trabalha. Pense nas questões abaixo, com espírito crítico:
Até que ponto a abordagem preventiva da Qualidade está a ser concretizada na prática?
Em que medida o Sistema de Gestão da Qualidade colabora para a prevenção dos erros?
Os procedimentos e as instruções de trabalho foram concebidos após reflexão e traduzem a melhor forma de executar um trabalho, ou seja, aquela que estará mais imune aos erros?
Existem ajudas visuais disponíveis, para que os colaboradores possam obter orientações mais claras?
Os fornecedores foram envolvidos nos esforços de melhoria da Qualidade?
Os problemas de fundo estão a ser resolvidos pela Gestão, a partir da análise de dados? As causas destes problemas são identificadas e eliminadas?
Em que medida as não conformidades são tratadas como erro humano e as ações corretivas implementadas (e ineficazes) são sempre "mais formação..."?
Como Responsável pela Qualidade, pode ter um papel determinante na disseminação da abordagem preventiva na sua empresa, fazendo com que a mesma não seja só mais uma metodologia e passe a ser uma forma permanente de encarar o trabalho, por todos os colaboradores. Interessante, não? Então, do que é que está à espera?
Happy errors,
I Love Mondays